"Eis o meu segredo: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos."
(Antoine de Saint-Exupéry)

sexta-feira, 1 de junho de 2012

"Esgotar as possibilidades..."

Entrevista de Fabrício Carpinejar para a edição da Revista Joyve Pascowitch ( maio/2012 ).


JOYCE PASCOWITCH: Como define o amor?
FABRÍCIO CARPINEJAR: Amor é fome, insatisfação, desequilíbrio harmonioso. É quando se passa a gostar dos defeitos do outro: do desvio de septo, de um sinal de nascença, das implicâncias. É o acolhimento de assumir aquilo que a pessoa passou a vida tendo vergonha e ensiná-la a apreciar. O amor é a nossa capacidade de se reinventar e se doar. Há uma ideia equivocada que considera quem muda como o lado fraco da relação, mas, na verdade, é quem tem o temperamento mais forte. Mudar é um ato que exige caráter.

J.P.: Então devemos mudar por amor?
F.C.: Totalmente. Eu me aperfeiçoo por amor. Acho uma maravilha a capacidade de ceder. A teimosia é burra: “Você não vai tirar meu futebol, minha noite, meus hábitos”... quanta besteira! Eu renuncio de cara porque se decido trocar hábitos, o faço por melhores do que os antigos. E todo mundo é egoísta. A mudança é por si, porque você não está mais feliz com situações passadas. O problema é que as pessoas querem conforto e o amor não traz isso. O amor é trabalho, é não ter paz, é inquietação.

J.P.: Você escreve sobre a necessidade de quebrar regras e sair da mesmice no amor. Tudo pra evitar o tédio?
F.C.: Nosso grande medo é que o outro nos ache sem graça. Temos medo da rejeição, e por pura defesa, acusamos antes de ser acusados. O que mais se espera de um relacionamento é o acolhimento, mas há o pavor de que a outra pessoa julgue esse sentimento algo menor. Então criamos movimentos falsos de aventura e exibição só para não entediar o outro. O início da paixão é estratosférico, as pessoas não param quietas exibindo tudo o que podem fazer. E, depois, passam a confessar o que realmente querem. Costumo dizer que a paixão é mentir tudo o que você não é, e o amor começa a contar a verdade. Um relacionamento pode dar muito certo quando, nos primeiros dias, os envolvidos falam durante horas sem se dar conta do tempo. É preciso confidenciar também os ruídos, os traumas, os vexames e as gafes.

J.P.: Você prefere o “amor eterno” ou o “que seja eterno enquanto dure”, do soneto de Vinicius de Moraes?
F.C.: Essa história de eterno enquanto dure é canalhice. Acredito na tentativa do amor eterno, o amor de esgotar as possibilidades. Alcançar tamanha afinidade com uma pessoa e depois se separar é uma espécie de morte. Também sei que amores felizes têm mais chance de dar errado do que os amores tristes. O amor feliz chama a atenção, gera inveja e ciúme. Todo mundo quer destruí-lo.

J.P.: As mulheres buscam o par perfeito. Ele existe?
F.C.: Pode existir  par imperfeito, justamente porque o amor é essa possibilidade de romper com aquilo que esperamos, com a idealização. O amor é uma lição. Você não vai conseguir mandar nele. Se você disser “nunca vou me envolver com um lutador de UFC”, pode ter certeza de que o contrário irá acontecer. O amor é atravessar o desprezo e desamarrar preconceitos.

J.P.: As mulheres são ansiosas  não se cansam de planejar o futuro. Isso estraga o presente das relações?
F.C.: As mulheres não querem se relacionar, elas querem dizer que os homens não prestam. Relacionar-se não é fácil, nem de graça: exige sair de si, despedaçar a ilusão, se produzir, se incomodar, conhecer a família, lidar com expectativas. È como comprar uma roupa e ter de ir à costureira refazer a barra, enquanto o seu desejo era usá-la na hora. A pessoa se sente enganada porque achava que não precisaria de esforço para ter amor, mas é justamento o oposto. Não é somente ter, mas manter.

J.P.: Como manter o romance?
F.C.: Trata-se de surpresa, delicadeza, de conhecer os hábitos e entender o que o outro precisa. Saber, por exemplo, que sua mulher tem facilidade de esquecer algumas coisas, mas não esperar que ela erre para cobrar. Muitas vezes ficamos naquela fiscalização para tripudiar o erro. Mas ninguém quer envolvimento sério. Todos amam a ideia de ter alguém, mas querem um serviço de “tele-entrega” sem enfrentamento. Como construir um relacionamento sem discussão? Nunca.

J.P.: Então discutir a relação é necessário?
F.C.: Sim, a ‘D.R.’ é um estado de sírio para fazer perguntas que não podem ser feitas m um ambiente normal. Mas pode ser encarada com senso de humor. Trata-se do riso afetuoso, não o riso de afrontar o outro, já que as pessoas se sentem tentadas a debochar. Mulher é pós-graduada no assunto, enquanto os homens, somente alguns deles, fizeram cursos profissionalizantes. O relacionamento requer tempo e nem todo mundo tem paciência.

J.P.: Qual o papel do ciúme nisso tudo?
F.C.: Ter transparência para responder perguntas e não fazer mistérios bobos é imprescindível. Quando o ciúme é unilateral, parece alucinação. É preciso haver delicadeza de deixar o outro falar o que sente, pois assim o assunto desaparece. É como contar um pesadelo para alguém te ajudar a decifrá-lo. Não confessar o ciúme é péssimo para a relação, enfraquece os laços. Ciúme guardado vira ressentimento e pode levar à invasão de privacidade. O ciumento vai olhar o e-mail, mexer no celular e, já que se infiltrou na intimidade alheia, precisará achar algo que justifique tal comportamento. Então ele torce para ter sido traído, tudo para não passar como vilão e desrespeitoso. O homem adora dar provas de que não tem nada. Aqueles que não mostram, estão culpados, sempre.

J.P.: Leitores do seu site se queixam constantemente de traição. A fidelidade é possível?
F.C.: Há quem opte por uma relação aberta, (neste) caso, a infidelidade acontece quando alguém (se) apaixona por outra pessoa. Acho uma (   ) porque a relação fica muito mais suscetível (ao) fim, ainda mais quando o homem enxerga o (   ) como porta de entrada do amor. Homem se apaixona pela mulher que transa bem. É uma (maneira) de facilitar o rompimento e fidelidade é justamente esse cuidado. A mulher não aceita a presença (de) outra que saiba mais do que ela, esse deboche silencioso é o que mais fere.

J.P.: As pessoas traem com mais facilidade?
F.C.: Sim. Queremos trair sem comprometer o relacionamento, sem pagar o preço. Acho terrível a maneira como profissionalizamos a infidelidade. O motivo principal é porque queremos um (relacionamento), mas sem sofrer com ele. Então, (quando) surgem dificuldades sexuais, você pensa: “Por que passar horas discutindo?”. E trata logo de (complementar) a sua história com histórias paralelas, (usando) argumentos inexoráveis como “o homem (nunca é) monogâmico”. Quando o interesse em alguém altamente existe é preciso dedicar tudo para (   ) pessoa, não tem como dar errado.


*algumas palavras estão rasuradas pq não consegui decifrá-las, graças a qualidade das fotos que eu tirei da revista onde eu li a reportagem, rs...